CENTRO EDUCAÇÃO BILINGUE REBECA

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sexta-feira, 8 de julho de 2011

DO DIAGNÓSTICO, LAMENTOS À SUPERAÇÃO

Muitas são as indagações e os questionamentos vindos do lado de fora sobre a família dos surdos, ainda mais quando a família é ouvinte.
*Porque demoraram para recorrer a um tratamento?
*Eles já sabiam mas não queriam ver e aceitar?
*A culpa do atraso na língua do indivíduo surdo é dos pais?
*Porque houve a demora de aceitar a língua de sinais?
São tantas as perguntas e também a culpa que atribuem a família do surdo que resolvi escrever sobre esse tema colocando meu ponto de vista e de experiência e vivência como mãe de uma surda.
Acredito que muitos desses questionamentos atribuídos à família dos surdos são verdadeiros pois muitos pais demoram a aceitar que seus filhos são surdos. Digo ainda que pode ser por ignorância, como foi no meu caso, pois ao descobrir que a Rebeca era surda, fui encaminhada para a fono, aonde me garantiam que ela iria falar. Após anos de tratamento veio a decepção de um resultado negativo, a Rebeca não teve nenhum progresso, deixo bem claro aqui, que no caso "especificamente" da minha filha não deu certo, pois sei da importância de um tratamento fonoaudiológico.
O que fazer então? Estávamos tão perdidos... A cada dia víamos a nossa filha mais dentro do seu mundinho e pairava sobre os nossos pensamentos: - O que será que ela pensa? Não tínhamos comunicação nenhuma...zero!!
Como pode uma família que se ama tanto, estarem presos sem saber o que sua própria filha sentia e pensava? Seu comportamento era agressivo, não fazia amigos, não tinha ninguém.
Até que conheci a língua de sinais. Meus Deus que difícil!!! Meus dedos não conseguiam fazer aquelas letras e a minha mente não acompanhava fazer tantos sinais. Lá no fundo eu pensava: - Que "besteirol" todo é esse? Será que realmente vai dar certo?
Eram tantas as decepções e "nãos" recebidos por parte da sociedade que eu pensava, não será uma combinação de letras e sinais que irá tirar a Rebeca do seu mundinho. E assim comecei a aprender a língua de sinais mas nada....Rebeca não respondia a nenhum sinal. E pensava comigo: - Não vai dar certo. É mais um caminho a percorrer que não dará em nada. Culpa? Muitas, pois quanto tempo perdido, quantas terapias, aulas para conhecer um pouquinho mais essa língua tão difícil, e nada. Comecei a escutar histórias de que era assim mesmo, ia demorar pois eu era culpada de não ter introduzido a Rebeca na língua de sinais ainda pequena. Culpada? Era assim mesmo que eu me sentia, pois só descobri a língua de sinais aos sete anos, e demorei dois anos para querer realmente aprendê-la.
Ah! Se eu soubesse, se eu tivesse conhecido tudo isso antes, tudo seria diferente, atitudes, decisões...tanto sofrimento evitado. Errei? Errei mesmo! Tento não me desculpar com palavras. Queria ter uma máquina do tempo e voltar atrás. Impossível. O que está feito, está feito.
Como prosseguir e recomeçar? Refazer conceitos, destruir preconceitos, enfim, me abrir para a língua de sinais. Foi um processo longo e dolorido, e muitas vezes quis parar pois não tinha nada que me fizesse ver que fosse um reflexo do meu esforço em tentar ensinar a língua de sinais que eu obtivesse uma resposta positiva da minha filha. Então comecei a colar pela casa toda nomes dos objetos, sinais dos mesmos, datilologia, e a escrita em português, alfabeto em LIBRAS, alfabeto em português, por onde eu andasse dentro da minha casa tinha sinal e papel pendurado por todo canto. Assim depois de anos comecei ver pequeninos lampejos de luz, estes pequenos esforços sendo estornados em letras "datilologia" nas pequeninas mãos da Rebeca. Lembro até hoje quando ela conseguiu fazer o alfabeto em LIBRAS pela primeira vez, os sinais, é claro, os primeiros, foram de comida, pão, macarrão, arroz, carne...(risos).
E a primeira vez em que ela se identificou como uma pessoa?  Ao olhar o nome dela num papel e em seguida apontar para ela. Que alegria! A Rebeca já se reconhecia. Meu Deus são tão pequeninos os avanços, mas para mim, eu os chamo de O MILAGRE DA LÍNGUA DE SINAIS. Hoje ainda nosso diálogo é pequeno, pois seu vocabulário ainda é poco, pois faz pouco tempo que ela se apropriou da língua, mas a cada dia é uma surpresa e e uma emoção. Há poucos dias ela ficou chateada, porque eu estava sentada no computador e ela queria brincar no computador, e eu não deixava. De repente tudo ficou em silêncio...Quem pensa que surdo é silencioso se engana, eles são o próprio barulho!...(risos). Resolvi então ver o que estava acontecendo. Quando olhei para a parede, ela estava toda riscada com essas palavras: brava, brava, brava, brava, brava. Fiquei com vontade de chamar sua atenção, mas não consegui, pois fiquei tão feliz e eufórica, porque Rebeca estava externando seus sentimentos.
Quanto tempo eu perdi...mas não foi porque eu fiquei parada, busquei soluções, andei por todo o tipo de especialistas. Tudo que me falavam, eu ia atrás. Só não sabia que a solução estava tão perto na língua de sinais. Como disse no começo: A culpa é de quem?
Sim, eu errei! Os pais erram, muitos porque acham que seus filhos tem que ser ouvintes, outros porque não tiveram a chance de conhecer a cultura surda, outros ainda porque estão no processo de aceitação, talvez alguns nunca vão aceitar. Importante é reconhecer que errou, e recomeçar. Pois enquanto há vida, há um recomeço. Nunca é tarde.
Parar, ver e reconhecer que errou é difícil, mas posso dizer hoje, que cada lágrima derramada valeu! Cada "não" que esteve a nossa frente foi um degrau que nos levou a língua de sinais.
Prostrados... Levantamos e continuamos a caminhar... Vencidos? De forma nenhuma...?!?!?! Vencedores? Ainda não, pois temos muitas etapas a a serem vencidas pela Rebeca, e outros surdos, direitos assegurados mais não conquistados (educação), e é por ela e por todos os surdos que o CEBIR não para!
AVANTE! SEMPRE!
Abraços,

Miriam

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